TRANSPARÊNCIA

Escritório de ex-vice da OAB/MS repassa R$ 650 mil ao presidente da Assembleia Legislativa

Quebra de sigilo bancário expõe repasses milionários e movimentação suspeita envolvendo órgãos públicos e figuras políticas de Mato Grosso do Sul.

Um esquema que envolve repasses milionários do escritório de advocacia da ex-vice-presidente da OAB/MS, Camila Cavalcante Bastos, trouxe à tona conexões que atingem diretamente o presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro. Segundo a Polícia Federal, o escritório repassou R$ 650,3 mil ao parlamentar, cinco vezes mais do que a quantia recebida pela própria Camila Bastos, que permanece como sócia.

A advogada investigada por venda de sentenças recebeu R$ 378 mil em contratos com Sidrolândia-MS.Escritório de Camila Bastos, alvo da Operação Ultima Ratio, prestou serviços jurídicos à prefeitura de Sidrolândia desde 2023.

“Esses valores exorbitantes são incompatíveis com a real movimentação financeira declarada pelo escritório”, destaca o relatório da PF encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça. A investigação, parte da Operação Ultima Ratio, inclui ainda o pai da advogada, o desembargador Alexandre Bastos, afastado do cargo e monitorado por tornozeleira eletrônica junto com outros magistrados.

Órgãos públicos no centro das movimentações

A análise do sigilo bancário revelou que a maior parte dos recursos do escritório de Bastos provém de contratos com prefeituras e câmaras municipais. Entre os órgãos citados estão a Câmara de Campo Grande, que repassou R$ 133.787, e a Prefeitura de Terenos, com R$ 278.052. O cenário fica ainda mais delicado quando se considera que Alexandre Bastos, pai de Camila, teria atuado como relator em processos relacionados a prefeituras contratantes do escritório.

“O fato de o magistrado julgar processos de entidades contratantes do escritório de sua filha sem declarar impedimento é grave e requer uma investigação rigorosa”, frisou a PF em relatório.

Benefícios milionários para Gerson Claro

Embora oficialmente tenha deixado o escritório, Gerson Claro foi o maior beneficiário dos repasses, acumulando R$ 650,3 mil em apenas um ano. Esse montante é mais do que o triplo do valor recebido por Bento Duailibi, sócio atual da empresa. Kátia Regina Bernardo Claro, esposa do deputado e também sócia, recebeu R$ 207.975 no mesmo período.

O deputado, que não é formalmente investigado na Operação Ultima Ratio, aparece como o principal beneficiário do escritório. O valor recebido por Claro é 410% superior ao repassado à sócia Camila Bastos, o que levanta ainda mais questionamentos sobre sua conexão com as operações financeiras da empresa.

Camila Bastos rebate acusações

Camila Bastos negou qualquer irregularidade em entrevista coletiva e criticou a PF pelo que chamou de “linchamento moral”. Após ser alvo da operação, a advogada deixou o cargo de vice-presidente da OAB/MS e desistiu da reeleição. Em vídeo divulgado, afirmou: “Não vou me calar diante de acusações infundadas que atacam minha honra e minha trajetória.”

A OAB/MS informou em nota que abriu procedimento no conselho de ética contra os advogados citados no escândalo. “Estamos acompanhando de perto a apuração e tomaremos as medidas cabíveis para garantir a lisura na advocacia”, concluiu a entidade.

Com o avanço das investigações, Sidrolândia e outros municípios ligados ao esquema seguem no radar das autoridades, em busca de respostas e justiça.

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Foto: Divulgação

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