A suposta organização criminosa comandada por Francisco Cezário de Oliveira inseria declarações falsas e maquiava a prestação de conta para esconder o desvio de recursos. Interceptações telefônicas revelam como o grupo agia para justificar a saída do dinheiro. Apenas a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) repassou R$ 14,6 milhões entre 2013 e 2022, conforme os balanços da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul.
A Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) na terça-feira (21), mostrou que os integrantes da organização criminosa até procuravam outros meios de receber mais dinheiro e não escondiam que tudo era repassado para Cezário, o imperador do futebol sul-mato-grossense.
“Além do desvio de verbas, a inserção de declarações falsas nas prestações de contas da Federação de Futebol pôde ser identificada por meio de outra ligação captada no dia 25/04/2023 entre Umberto Alves Pereira e o responsável técnico que assina a prestação de contas da FFMS, Erley Freitas da Rocha”, pontuou o juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande.
Conforme as interceptações telefônicas feitas pelo Gaeco, Beto e Erley concluíram que o valro deveria ser reduzido para não levantar suspeitas. “Ao final combinam registrar um saldo devedor de R$ 70.000,00, pois o valor real (R$ 490.000,00), segundo Umberto, seria muito alto para ser explicado”, pontuou o magistrado.
Em outro trecho, o Gaeco apontou que Beto e o gerente de TI da FFMS, Rudson Boragim Barbosa, discutem como desviar R$ 10 mil repassado pela CBF. “Dá pra ver segunda e diz que arbitragem faz parte, e que tem que ver o que mais faz parte, gandula etc o que mais faz parte (…) então, isso que vou ver, e que se puder ver se encaixa ambulância e diz ‘ESSES 10 MIL AI, ELES VAI SER NOSSO ENTENDEU’”, destacou o magistrado.
Nas interceptações, Beto e Rudson não deixam dúvidas de que procuravam o melhor meio de justificar a retirada do dinheiro sem levantar suspeitas. “Com o objetivo de encobrir os valores desviados, Umberto conversa com Rudson, a fim de ajustar uma forma de ‘maquiar’ as prestações de contas encaminhadas à CBF”, relatou o juiz.
“‘Não não, faz assim vê se você acha, eu tenho o valor aqui, vamo dar uma maquiada e mandar [risos] (…) a mais ce tem, num tem, da pra dar uma maquiada e mandar pra ele? n/c mandar, colocar o valor ai?’”, teria dito o sobrinho de Cezário.
Os repasses da CFB à Federação de Futebol de MS
- 2013 – R$ 1.290.000
- 2014 – R$ 1.587.492
- 2015 – R$ 1.567.519
- 2016 – R$ 1.384.682
- 2017 – R$ 945.850
- 2018 – R$ 1.150.787
- 2019 – R$ 1.202.588
- 2020 – R$ 1.366.500
- 2021 – R$ 2.159.851
- 2022 – R$ 1.988.040
Fonte: balanço da FFMS
“Ainda na mesma conversa, Umberto diz para Rudson que a verba recebida para custear o projeto seria em verdade para Francisco Cezário ‘Eu falei CEZÁRIO, se ele falar CEZÁRIO eu tenho 500 mil no ano, você pega três projetos, o SUB, PORQUE NA REALIDADE O DINHEIRO É PRA ELE NÃO É PRO CAMPEONATO, NÃO É VERDADE?”, disse, conforme o Gaeco.
A CBF repassou R$ 14,648 milhões para a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul entre 2013 e 2022, conforme os balanços disponíveis no site da instituição. O maior repasse ocorreu em 2021, quando foram enviados R$ 2,159 milhões a Mato Grosso do Sul. O valor repassado no ano passado não foi informado porque o balanço saiu sem a tradicional prestação de contas com receitas e despesas.
Devido à gravidade da denúncia e às provas juntadas aos autos, o juiz decretou a prisão preventiva de Aparecido Alves Pereira, Francisco Cezário de Oliveira, Francisco Carlos Pereira, Marcelo Mitsuo Elzoe Pereira, Umberto Alves Pereira, Valdir Alves Pereira e Rudson Bogarim Barbosa.
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