Ida de ministra para o PP colocou antigos parceiros em confronto com mais novos, gerando desconforto antes da posse
Bastou a ministra Tereza Cristina (Agricultura) recorrer à sua conta do Facebook para dizer que “abre portas”, jamais as fecha, e que “agrega”, sem em tempo algum desagregar, para que aliados seus, em um sinal inverso, entrassem em uma espécie de rota de colisão.
“Tão logo aconteça a minha filiação ao Partido Progressista, o meu grupo, que inclui os dois deputados estaduais – Barbosinha e Zé Teixeira –, além de prefeitos e vereadores, terá as portas abertas para que se junte à minha nova sigla”, destacou Tereza em trecho do texto postado.
Ela e os deputados citados eram do DEM, legenda que agora se chama União Brasil, depois que se juntaram ao PSL, sigla que também sumiu do mapa nessa fusão.
Ocorre que Barbosinha e Zé Teixeira nutrem rixas antigas com um integrante do PP em especial: o prefeito de Dourados, Alan Guedes. A dupla tem a maior cidade do interior como berço político, revela que, apesar do apelo de Tereza, para o PP, é que eles não vão.
Ou seja, Tereza Cristina, que já entra na legenda por cima, como a presidente da sigla, já se depara com um problemão pela frente, tendo de solucioná-lo.
AS RUSGAS
Barbosinha e Zé Teixeira, aliados de primeira hora da ministra, não vão migrar para a sua nova legenda, apesar de assegurarem que seguem apoiando ela ao Senado – aliados e até adversários contam como certo a pré-candidatura dela para tal cadeira neste ano.
Note o que disse ontem à tarde ao Correio do Estado o deputado Zé Teixeira, dono de oito mandatos, todos conquistados pelo extinto DEM.
“Não vou de jeito nenhum para União Brasil, lá não tenho afinidade política com ninguém. Também não vou para o PP para não causar constrangimento [ao prefeito Alan Guedes], e nem quero isso. Não quero ir para o PL, inclusive tenho amigos lá [ele citou o nome de Edson Giroto, ex-deputado federal, que saiu da política por implicação com crimes de corrupção]”, destacou o cacique ruralista.
Depois, Zé Teixeira deu a pista de seu rumo partidário. Ele afirmou que o projeto de governo que defende é “muito parecido” ao do pré-candidato Eduardo Riedel, do PSDB. “É um partido mais pontual, mais correto”.
Já o deputado Barbosinha ainda não quis revelar a que partido deve se filiar. O parlamentar citou “até o PP, o União Brasil e ainda o PL”.
Entretanto, ele, que mantém divergência política com o prefeito de Dourados, outro do PP, desde 2020, quando se enfrentaram na disputa pela prefeitura, deixou a entender que “avalia” com atenção propostas do PSDB.
Barbosinha disse ainda que “calcula” seu rumo partidário porque “pensa em sua reeleição”. O parlamentar afirmou que a disputa para o Senado é “bem diferente” da concorrência por vaga na Assembleia Legislativa, daí um dos motivos para não seguir atrás da ministra na hora de assinar a ficha no Progressista.
CHAPA PESADA
Outra questão que tem feito a diferença e que justificaria a resistência dos dois deputados em seguirem para o PP tem a ver com o peso na chapa dos progressistas, principalmente na briga por mandatos de deputado estadual.
Além de Barbosinha e Zé Teixeira, já pré-candidatos à reeleição, outros dois do partido também estão na briga, no caso, os deputados Gerson Claro e Evander Vendramini.
E o PP conta ainda com o desembarque de outros dois deputados estaduais, Lucas de Lima, do Solidariedade e Neno Razuk, do PTB, também interessados na reeleição.
O deputado estadual Evander Vendramini, ainda presidente regional do PP – ele passa faixa para a ministra assim que ela se filiar –, comenta as eventuais razões que dificultam as filiações de Barbosinha e Zé Teixeira à sigla que comanda atualmente.
“Há uma resistência nos nomes de Zé e de Barbosinha, tanto deles como do PP. O Alan Guedes [prefeito de Dourados] é do nosso partido, foi eleito pelo nosso partido, ganhando deles [Barbosinha e Zé Teixeira] inclusive, e o Barbosinha bate constantemente, toda semana, na administração dele em Dourados”, disse Vendramini à reportagem.
O presidente do PP afirmou ainda que “se eles irem para o PP, perderíamos o Alan Guedes, que é o prefeito da segunda maior cidade do Estado, a maior do interior. Eu não trocaria um pelo outro. Da minha parte não teria problema, mas perderíamos um prefeito como o Alan Guedes”.
O deputado aponta outro complicador: “Também tem uma situação que complica bastante que é a nossa chapa, que ficaria muito pesada. Isso contribui muito para ter essa rejeição. Já temos eu e o Gerson Claro deputados, e em breve o Neno Razuk e o Lucas de Lima devem se filiar.
Vendramini, empolgado com a ida da ministra para o PP, disse que a expectativa é de que em 2023 a bancada dos progressistas dobre na Assembleia Legislativa.
“Na majoritária, nosso alinhamento vai junto ao da ministra, e estamos com Riedel [Eduardo, pré-candidato ao governo pelo PSDB]. Isso é algo consolidado já”, conta, prosseguindo.
“Mas, na proporcional, acredito que eles [Barbosinha e Zé Teixeira, que também apoiam a ministra] deverão buscar outra sigla para se acomodarem. Acho que isso não muda nada sobre seguirem no grupo dela”, é o que pensa o deputado.
Evander revelou ainda que Jaime Verruck, secretário do governo de Reinaldo Azambuja, também seguirá os passos da ministra Tereza.
“É um homem forte do governador e será muito bem-vindo ao PP”, resumiu.
SAIBA
O ano de 2020 foi agitado na política douradense por uma intensa disputa entre o deputado Barbosinha e o vereador Alan Guedes.
Favorito a levar a prefeitura nas urnas, Barbosinha contou com o apoio do governo do Estado, mas nem assim conseguiu superar Guedes, que surpreendeu e venceu com diferença de 2,5 mil – foram 34,2 mil contra 31,6 mil.
Desde a campanha, a relação de ambos foi marcada por divergências e criada uma intensa rixa, que hoje se reflete na conjuntura da corrida eleitoral para as eleições de outubro deste ano.
Fonte: Correio do Estado.
Deixar um Comentário
Você precisa fazer login para postar um comentário.