Podemos mencionar o que quisermos, “o papel aceita tudo”, diz o ditado popular.
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul homenageou em sessão solene os profissionais e empresas de radiodifusão, que contribuíram para o desenvolvimento do Estado. O evento foi proposto pelo deputado Marçal Filho (PSDB), autor da Resolução 103/2019, que instituiu a Comenda Antônio Tonanni, honraria entregue aos profissionais na noite da terça-feira (26).
Assim, Nelson Feitosa foi homenageado em sessão solene . Talvez por ser empresário e empregador tenha um tanto a merecer a Comenda Antônio Tonanni, um troféu com os dizeres “Radialista com muito orgulho”.
Mas assim como o lápis escreve e o papel aceita, a borracha apaga o que não se quer lembrar, ainda que impossível esquecer uma prisão, e principalmente não se quer que os outros lembrem.
Então a biografia ficou perfeita, de lutas, de necessidades, de crescimento enfim. Hoje um empresário do ramo das comunicações, aquele que atua como um girassol que acompanha a luz do sol que brilha no momento. Houvesse mil sóis, estariam viradas para o que, no momento, brilha mais.
Na onda da popularidade obtida com o rádio, onde se pode e se fala tudo o que público quer ouvir, quer se acredite, ou não, mas baseado no que a população deseja, partiu – como tantos outros – para a política.
Então sai a voz e o adoçar ouvidos, corações e mentes e entra a articulação, o compadrio, a habilidade de formar grupos que se protegem e se beneficiam, sempre com o dinheiro público, afinal os rendimentos de tão árdua tarefa são sagrados. De vereador a presidente da Câmara Municipal de Sidrolândia.
Mas a inexperiência aliada à ganância deixa rastros, portanto em abril de 2009 Nelson Feitosa foi preso, conforme matéria no jornal “Correio do Estado”: “O ex-presidente da Câmara Municipal de Sidrolândia, Nelson Feitosa (PDT) foi preso na manhã de ontem (8) por corrupção passiva, em atendimento a decretação de prisão preventiva requerida pelo Ministério Público Estadual (MPE), por intermédio da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social. Segundo os promotores Fernando Martins Zaupa e Kristiam Gomes Simões, Feitosa está sendo investigado desde setembro do ano passado (2008) por desvio e utilização de verba pública da Câmara Municipal. Segundo o MPE ele acabou sendo preso porque estaria manipulando as testemunhas”.
Em abril de 2015 Feitosa foi condenado a 3 anos de prisão por desviar dinheiro público, acusado de abastecer veículos particulares e de eleitores, em nome da Câmara, entre os anos de 2007 e 2008, conforme matéria do site Campo Grande News.
Nessa época o legislativo gastou 17.500 litros para, teoricamente, abastecer os veículos oficiais. Por não ter antecedentes criminais (ainda que tenha sido preso em 2009) a pena foi convertida em medidas restritivas de direito e liberdade, e ao pagamento de 20 salários mínimos à entidade pública ou privada com atuação filantrópica social e prestação de serviços à comunidade. Nelson Feitosa recolheu à Justiça R$ 15.760,00, equivalente a 20 salários mínimos da época, valor correspondente a 33% dos quase R$ 48 mil gastos com gasolina quando presidiu a Câmara.
Ficou comprovado que ele próprio abasteceu dois carros particulares (um Celta azul e uma caminhonete); autorizou que o ex-vereador Ilson Barbosa, na época 1º secretário da Câmara, que abastecesse seu veículo particular, além de beneficiar assentados e indígenas.
Em outro processo, Nelson Feitosa também respondeu junto com o então presidente da Câmara, Jean Nazareth (PT) e outros, pela prática de ato de improbidade administrativa consistente na violação dos princípios da administração pública. A ação protocolada em agosto de 2012 visava acabar com a “farra de nomeações” concedidas pelos presidentes da Casa de Leis para pessoas de seus círculos de amizade que, segundo a Promotoria de Justiça, ocorria desde o ano de 2008.
Dono da Rede Jota FM de Rádios foi homenageado em reconhecimento aos “relevantes serviços prestados ao desenvolvimento de Mato Grosso do Sul”. A iniciativa de homenagear os radialistas foi do deputado Marçal Filho, ele mesmo um radialista de profissão, que trabalhou como locutor e sonoplasta de uma das rádios do Grupo Feitosa, em Glória de Dourados.
Homenagens, merecimento ou conveniência?
O afã de conquistar mídia leva deputados e vereadores a estimularem e criarem homenagens em cima de homenagens a profissionais dos mais variados. Marçal Filho pegou uma das melhores veias em época pré-eleitoral; a mídia, as pessoas da mídia, os ouvintes da mídia radiofônica.
Nessa sanha de estar em destaque, aceitam o que papel aceito antes, qualquer currículo, ainda que falho, mesmo que escamoteie as verdades que tanto se pretendia manter no passado, em matérias esquecidas.
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