CORRUPÇÃO SIDROLÂNDIA

De Camionete a tenda para festinha, tudo era pago com verba desviada da prefeitura

Delator diz que caminhonete locada pela prefeitura era usada na fazenda de Claudinho Serra

Claudio Serra (Foto:Rede Social)

Caminhonete, combustível e até tenda para almoço durante a Copa do Mundo teriam sido pagos com dinheiro público, segundo o ex-servidor da prefeitura de Sidrolândia, Tiago Basso da Silva. Em delação homologada pelo TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) ele relata, ainda, como o dinheiro “pulava” na administração encobrir o desvio de uma secretaria para outra e pagar gastos administrativos.

Em mais um vídeo gravado durante a delação, Tiago Basso cita a locação de quatro veículos usados por secretários e a prefeita Vanda Camila (PP), além de cinco Gols destinados a serviços realizados por servidores.

Destas, uma era usada pelo então secretário Municipal de Finanças Cláudio Jordão de Almeida Serra (PSDB), o Claudinho Serra, vereador licenciado em Campo Grande e considerado um dos líderes do esquema de corrupção em Sidrolândia.

Segundo Basso, o veículo era usado para serviços particulares do então secretário, principalmente para a fazenda de propriedade dele, localizada entre os municípios de Nioaque, Aquidauana e Dois Irmãos do Buriti. Relata que um sobrinho de Vanda era quem fazia os trabalhos. “Quantas e quantas vezes ele pedia para mim ‘Ó, enche o tanque da caminhonete, que amanhã tenho que ir para a fazenda’”. Em uma das ocasiões do abastecimento, a Amarok estava carregada com cochos que seriam levados à propriedade rural.

Embora não cite envolvimento dos outros secretários no esquema, Basso relata condutas questionáveis. Uma SUV ficava “30 dias por mês, 7 dias por semana” com um dos secretários. “Ficava o mês inteiro”, diz Basso. Sobre o veículo que ficava com a prefeita, afirmou que rodava de forma regular, para o serviço no Executivo.

Os 5 Gols, conforme ordem expressa de Claudinho Serra, eram usadas a partir das 7h até 17h, devendo “dormir no pátio da prefeitura”.

Tiago Basso relatou, ainda, a contratação de serviço sem licitação, e com pagamento feito com “cruzamento de verba”. É o caso da locação de tenda e palco, realizada “de forma recorrente”, diz o delator. “Geralmente a gente contratava o *** e tinha que dar jeito de pagar ele”, contou.

Uma licitação chegou a ser aberta para este fim, mas foi suspensa “por algum enrosco”, segundo o ex-servidor. Enquanto o processo estava em andamento, a dívida com o dono da tenda já estava em R$ 14 mil.

A dívida subiu para R$ 22 mil por conta de uma tenda que, segundo o delator, teria sido instalada na casa de Vanda Camilo para almoço com vereadores durante Copa do Mundo. “Essa tenda acabou ficando lá, ficou mais de uma semana, quase 10 dias”.

Basso conta que, quando tratou da retirada da tenda, a prefeita pediu que deixasse o aparato no local. “Segura aí, se a gente ganhar as eleições, a gente faz um almoço, uma confraternização, deixa a tenda aí”, disse, explicando que seria perto do 2º turno das eleições.

As datas entre Copa do Mundo de 2022 e 2018 e as eleições, tanto municipais quanto presidenciais, não foram próximas para situar o episódio descrito pelo delator.

O acerto do débito foi feito por meio de Ricardo José Rocamora, sendo usado o contrato sem qualquer relação com o serviço. “Geralmente a gente mandava em ata de registro de preço, em ‘material de construção’”, contou o delator. Outros débitos de locação de tenda foram acertados por meio da secretaria de Governo, que aproveitou dinheiro de convênio com sindicato.

Notas e pistão 

O convênio com posto de combustíveis era uma das principais fontes de lançamento de notas fraudulentas para justificar gastos inexistentes.

Basso confirma aos promotores que a Rocamora Serviços de Escritório e a 3M, de propriedade de Milton Matheus Paiva, constavam como fornecedoras do posto de combustíveis, emitindo nova de venda de diesel, lubrificantes e outros serviços.

“Teve uma secretaria que, em três meses, acabou com todo o orçamento [lubrificantes] dentro da empresa, tinha meio milhão de aquisição de peças e serviços, gastou tudo dentro do sistema [do posto]”.

De acordo com o delator, o que era lançado para pagamento das oficinas era de serviço efetivamente executado. Porém, o mesmo não acontecia com a Rocamora e a 3M. “90% das vezes eles não praticavam realmente aquilo que eles tinham lançado”. Segundo Basso, um dia Rocamora fez aquisição de pistão para carreta e, três meses depois, lançou o mesmo equipamento na nota. O kit do equipamento com anéis é vendido, em média, por R$ 2,5 mil.

Outro exemplo era a “ingerência” na Fundação Indígena, como descrevem os promotores ao questionar o esquema na entidade, que também usufruía de cartão do posto de combustíveis com “crédito” para abastecimento e manutenção de maquinários usados nas aldeias indígenas. “Mas eles acabavam usando esse saldo para outros fins, né?”.

Neste lançamento, figurava Milton Matheus Paiva, dono da 3M. Um dos casos, cita que precisava justificar negociação. “Arrumei aqui R$ 2 mil, arrumei aqui uma telha, um tijolo lá para o presidente da Fundação, eu preciso receber, com que eu vou receber isso daqui?”.

Milton Matheus Paiva, dono da 3M (Foto:Divulgação)

Milton Paiva pediu ajuda a Basso. “Eu disse ‘beleza, vamos lançar cinco tambores de óleo 15w40, que é para troca de óleo, vamos lançar um óleo 68, um óleo 90, né? Que é uma coisa que não é um bem durável, é uma coisa que troquei o óleo, o trator trabalhou, troquei de novo e pronto”, disse. O ex-servidor recebia R$ 300 ou R$ 350 pela ajuda dada.

Braço direito

Carmo Name,  juntamente com Rocamora e Ueverton da Silva Macedo, o “Frescura” são apontados como os líderes do esquema de corrupção, segundo investigação do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).

Carmo Name, Rocamora e Ueverton da Silva Macedo, o “Frescura” (Foto:Divulgação)

O delator explica que Carmo Name era lotado como chefe de Transportes na prefeitura de Sidrolândia, ligado à Secretaria de Governo, devendo trabalhar diretamente com a prefeita. “Mas ele nunca ficou lá, ele só tinha um cargo, ele era braço direito do Cláudio”. O delator relembra situação que demonstrava a quem Carmo era subordinado. “Tanto que, vou ser bem honesto com você, se a Vanda ligasse para ele e mandasse pagar uma nota e o Cláudio falasse que não (….). Uma vez eu vi ele bater de frente com a prefeita”, contou. Na ocasião, Carmo Name disse: “Se a senhora quiser, faz do jeito que a senhora achar melhor, mas, sem autorização do Cláudio, eu não faço”.

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Por:Campo Grande News

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