POLICIAL

Fonoaudiólogo estuprava meninos com menos de 8 anos

Ele escolhia os mais novos pela dificuldade que eles teriam em relatar aos pais sobre os estupros.

 

Fonoaudiólogo foi ouvido na delegacia e crianças passaram por escuta especial com psicóloga – (Henrique Arakaki, Midiamax)

O fonoaudiólogo de 30 anos, preso após denúncias de abuso sexual contra pacientes que atendia em uma clínica de Campo Grande, tinha por preferência crianças menores de 8 anos, e quanto menor a vítima, mais agressivo ele era ao cometer os crimes, de acordo com as investigações da delegada Fernanda Félix da Depca (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).

O especialista também sempre oferecia doces, balas, pirulitos, chicletes como forma de ‘recompensa’ para as suas vítimas, sempre meninos. O profissional também atendia meninas, mas elas contaram que não sofreram nenhum tipo de abuso por parte do fonoaudiólogo. 

Ainda segundo a delegada, quanto menor a criança e com mais problemas de fala, o autor era mais agressivo. O autor ainda abordava os pais na saída das sessões ou por meio de mensagens, como forma de averiguar se algo havia sido dito sobre o que havia ocorrido dentro do consultório.

Das nove crianças ouvidas na delegacia por psicólogo, foram confirmadas quatro vítimas. O fonoaudiólogo deve ser ouvido na manhã de quinta-feira (17), na delegacia. A psicóloga Vanessa Machado que atendeu as crianças na delegacia relatou que todas as vítimas não conseguiam se expressar direito e não viam a situação como abuso, já que o fonoaudiólogo tratava como uma ‘brincadeira’. 

Uma das mães de um menino de 4 anos, procurou a delegacia na manhã desta quarta (16), após saber sobre as denúncias de abusos cometidas pelo fonoaudiólogo. Ela ainda em choque contou ao Jornal Midiamax que o filho estava desconfortável desde a última sessão quando saiu chorando do consultório. 

Ela ainda contou que o filho passou duas semanas com terror noturno e estavam achando que poderia ter sido algum filme que o menino havia assistido. A criança fazia acompanhamento com o fonoaudiólogo desde que a outra médica que atendia ele havia mudado de cidade. De acordo com a mãe do menino, nunca passou pela cabeça dela que o profissional pudesse fazer algo do gênero. Ainda segundo a mãe, o fonoaudiólogo passava atividades para que fizesse em casa, mas na última sessão o profissional não passou nada para a criança. “Sentimento de impotência total”, disse a mãe sobre os abusos cometidos contra o filho enquanto ela aguardava na recepção do consultório.

Outra vítima de 5 anos disse que o fonoaudiólogo mandava ele deitar na maca e passava as mãos nele. Com esta criança, a delegada disse que o autor teria sido mais agressivo. Ele vai responder por estupro de vulnerável individualmente por cada vítima e as penas vão de 5 a 8 anos. 

Mãe de uma das vítimas relatou pesadelo

Uma das mães que procurou a delegacia na tarde dessa terça-feira (15) relatou estar em choque e vivendo um pesadelo. “Faz 5 dias que estou em choque, sem dormir”, relatou a mãe de um menino de 5 anos.  Segundo a mulher, o filho dela começou o tratamento na clínica quando tinha 2 anos de idade. Diagnosticado com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), o menino passou a fazer tratamento com uma fonoaudióloga mulher.

No entanto, como o acusado era apresentado como fonoaudiólogo especialista no atendimento de crianças com autismo, o menino passou a fazer as sessões com ele, em abril de 2021. A primeira suspeita da mãe foi em novembro de 2021. Logo após a consulta, o menino saiu da sala em choque, fato que a mulher estranhou.

“Ele não olhou na minha cara”, disse a mãe, relatando que o menino entrou no carro segurando o pirulito, sem dizer uma palavra. A mulher então mandou mensagem para o especialista, perguntando o que tinha acontecido. “Nada, ficamos quietinhos”, teria respondido. Depois, ele mandou outras mensagens e também áudios, desconexos, como se tentasse se explicar.

Após a notícia divulgada no dia da prisão do acusado, a mulher ficou em choque. “Ele fez coisas horríveis com meu filho. Estava brincando de molestar”, disse. A mãe ainda conversou com o menino, que deu alguns relatos do que tinha acontecido. Em uma ocasião, o filho teria dito: “O tio é menina, saiu leite dele”.

Bastante abalada, a mulher relatou que está vivendo um pesadelo. O filho chegou a questionar o que significava o sinal de ‘zíper’ na boca, dando a entender que o fonoaudiólogo teria feito o gesto para a criança, pedindo o silêncio dela sobre os abusos. Para a mãe, o especialista teria agido “de caso pensado”, já que atendia crianças que não conseguem se comunicar.

Prisão em flagrante

No fim da tarde do dia 9 de março, o fonoaudiólogo foi preso em flagrante em Campo Grande, por estupro de vulnerável no Centro de Campo Grande. Ele foi encaminhado para a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).

Para o Jornal Midiamax, o advogado da família da vítima, Silvio de Almeida, relatou que o menino já fazia o tratamento com o fonoaudiólogo há 5 meses. Recentemente, ele teria conversado com o irmão mais velho, de 10 anos, que também já fez sessões de fonoaudiologia.

O caçula então perguntou se era normal que o fonoaudiólogo passasse a mão nos órgãos genitais. O irmão disse que não e orientou a criança, que contou sobre o ocorrido para a mãe. O menino teria um atendimento na quinta-feira, mas como não poderia acompanhar, a mãe adiantou para a quarta.

Ela acompanhou o filho, ficou na recepção e pediu para ele sair correndo da sala e gritar caso alguma coisa acontecesse. Assim, com 15 minutos de sessão o menino saiu chorando, aos prantos, da sala. A mulher foi até a sala do fonoaudiólogo, com uma testemunha, e o deteve até a chegada da polícia.

O profissional teria colocado a criança na maca, passado a mão na barriga do menor e, depois, teria tocado as partes íntimas do garoto. O homem, de 30 anos, foi preso em flagrante, mas tentou negar o crime. ‘Não fiz nada’, disse. Já o menino prestou esclarecimentos em depoimento especial, acompanhado de psicóloga, confirmando novamente os abusos. 

 

 

*Por: Thatiana Melo e Danielle Errobidarte / Midiamax
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